A CRB Regional Porto Velho esteve presente na 12ª Romaria da Terra, das Águas e das Florestas onde reúne dioceses e povos tradicionais em defesa do meio ambiente
No último domingo, 20 de outubro, a cidade de Costa Marques, em Rondônia, foi palco de um encontro histórico de fé, cultura e resistência. As três dioceses do estado se uniram para celebrar a 12ª Romaria da Terra, das Águas e das Florestas, promovida pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) em parceria com diversos órgãos de defesa do meio ambiente e dos povos tradicionais. Após uma pausa de quatro anos devido à pandemia, o evento marcou seu retorno em um contexto de urgência, diante dos desafios climáticos que afetaram gravemente a região e o país.
Com o tema “Ouvir e comprometer-se com as dores e as lutas dos povos e da mãe natureza” e o lema bíblico “Deus viu a aflição, ouviu o clamor e desceu para libertar o povo de seus sofrimentos”, a romaria destacou questões cruciais como as queimadas e a seca histórica que assolam Rondônia, além do avanço do agronegócio sobre territórios indígenas, e quilombolas. A procissão, que contou com quatro paradas ao longo do trajeto, deu voz aos gritos de resistência dos quilombolas, indígenas, pastorais sociais em contexto urbano e da juventude, refletindo as angústias e esperanças de quem sofre diretamente os impactos dessas crises.
O evento contou com a presença dos bispos Dom Benedito Araújo, anfitrião do evento, e Dom Norberto Foerster, da diocese de Ji-Paraná, além de padres, religiosas, romeiros e representantes de diversas instituições. Com destaque para a expressiva participação de indígenas e quilombolas, a romaria também reuniu representantes de outros estados, como Acre, Amazonas e Goiás. A Vida Religiosa Consagrada marcou presença com 15 religiosas de diferentes congregações, refletindo um envolvimento característico da região norte, onde a VRC é fortemente comprometida com as causas sociais e ambientais.
A escolha de Costa Marques para sediar a romaria não foi casual. A cidade, situada na Diocese de Guajará-Mirim, faz fronteira com a Bolívia, separada apenas pelo Rio Guaporé, que enfrenta uma seca sem precedentes. Este cenário de degradação ambiental foi central nas reflexões do evento, que se inspirou fortemente na encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, que profeticamente nos alerta para os gemidos da Terra e dos mais vulneráveis, chamando todos a repensar o modo como tratamos nossa casa comum e a agir em defesa de um planeta mais justo e sustentável.
“A inspiração da Laudato Si’ nos convoca a caminhar juntos, escutando o clamor dos povos e da natureza”, afirmou Dom Benedito Araújo durante a celebração. “Estamos unidos, seguindo o exemplo do Papa Francisco, para sermos instrumentos de transformação e cuidado com o planeta que Deus nos confiou”.
A romaria retomou uma tradição e reforçou o papel da Igreja na defesa dos direitos dos povos e do meio ambiente, especialmente em um momento tão crítico para a região amazônica.
Texto por: Ir. Joiciele Cristina Botelhos